No próximo dia, 5 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, e a data é um marco para refletir sobre as ações que contribuem para a saúde do planeta Terra. Embora a crise climática seja predominantemente impulsionada pelas emissões de gases, o engajamento e a conscientização da sociedade são cruciais para demandar e acelerar a transição estrutural necessária.
Uma pesquisa recente do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, da London School of Economics and Political Science, trouxe dados sobre uma dimensão pouco explorada: o impacto do gênero nas emissões individuais de gases de efeito estufa.
O estudo, intitulado “The gender gap in carbon footprints: determinants and implications“, analisou dados do consumo alimentar de mais de 2.000 pessoas e padrões de viagens de mais de 12.000 indivíduos na França. A pesquisa examinou a diferença de gênero nas pegadas de carbono relacionadas à alimentação e ao transporte, setores que representam metade da pegada de carbono individual média. A descoberta é notável: mulheres emitem 26% menos carbono do que homens nesses dois setores. Essa diferença está diretamente ligada ao consumo de dois itens intensivos em carbono tradicionalmente associados à identidade masculina: carne vermelha e automóvel.
Embora o estudo tenha sido realizado na França, é possível traçar paralelos com a realidade brasileira. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em março de 2025, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, SVB, as mulheres no Brasil demonstram uma propensão significativamente maior que os homens a reduzir o consumo de carne (28% contra 18%) e expressam maior disposição para deixar de comer carne por motivos de saúde (76% contra 72%), meio ambiente (48% contra 38%) e proteção aos animais (48% contra 34%).
Não por acaso, a literatura em ciências sociais demonstra a conexão entre o consumo de carne e a identidade masculina, enquanto estereótipos frequentemente associam o consumo ecológico e o vegetarianismo ao feminino [1, 2]. Compreender essa relação é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas de mitigação climática eficazes, pois indivíduos menos preocupados com as mudanças climáticas tendem a resistir às medidas de mitigação. Os resultados do estudo indicam que as mulheres, por terem pegadas de carbono menores, podem demonstrar maior disposição para apoiar políticas climáticas em comparação aos homens.
Além disso, a adoção de iniciativas que buscam contestar os padrões de consumo baseados em gênero, como a associação entre consumo de carne e masculinidade, podem ter um papel significativo na redução da pegada de carbono de indivíduos. A superação desses estereótipos pode incentivar os homens a adotarem comportamentos mais sustentáveis, incluindo escolhas alimentares com menor impacto ambiental. Para quebrar essa resistência, é importante criar campanhas educativas focadas em diferentes públicos e demonstrar os benefícios práticos das mudanças propostas.
Quanto à emissão de gases de efeito estufa no transporte, o estudo da London School revela que os automóveis estão tradicionalmente ligados a estereótipos masculinos. Os homens não apenas percorrem distâncias maiores de carro, mas também optam por veículos de maior potência e que emitem mais gases, demonstrando menor interesse por alternativas sustentáveis como transporte público ou bicicletas.
Ainda de acordo com o estudo, se todos os homens adultos da França adotassem a mesma intensidade de carbono no consumo de alimentos e transporte que as mulheres, mantendo as quantidades consumidas constantes, a pegada de carbono anual no país diminuiria em 1,9 MtCO2e para alimentos e 11,5 MtCO2e para transporte. Essa redução combinada (13,4 MtCO2e) equivaleria às emissões anuais de cerca de 2,9 milhões de carros de ageiros, considerando que um carro emite aproximadamente 4,6 toneladas métricas de CO2 anualmente.
Não por acaso, um estudo recente do WRI confirma que a redução do uso de carros movidos a gasolina junto com o aumento do consumo de refeições vegetais estão entre as principais mudanças comportamentais com maior potencial de redução de emissões. Outras medidas importantes incluem alternativas ao transporte aéreo (como trens de alta velocidade) e a instalação de energia solar residencial combinada com melhorias na eficiência energética doméstica.
Neste Dia do Meio Ambiente, a SVB reforça que mudanças de hábitos individuais são grandes aliadas no combate às mudanças climáticas. Os resultados do estudo aqui apresentado não apenas confirmam isso, mas também nos desafiam a questionar e superar estereótipos de gênero que perpetuam práticas prejudiciais ao clima. “Para avançarmos na mitigação das mudanças climáticas, é essencial que todos — homens e mulheres — adotem escolhas mais conscientes e apoiem políticas que promovam um futuro mais sustentável. Desejamos que esta data sirva como lembrete de que cada escolha conta na construção de um planeta mais saudável para as próximas gerações”, comenta Mônica Buava, pesidente da SVB.